segunda-feira, 15 de setembro de 2014

À sete anos atrás...

A sete anos atrás, estava prestes a viver momentos de angústia...por esta altura já tinha o nódulo na mama esquerda e estava a dar tempo para ver se desaparecia como o outro, tinha  duas únicas hipóteses na cabeça que era uma coisa hormonal que tinha aparecido por causa da menstruação ou...cancro mas nem queria pensar em cancro....era um tormento!
Estávamos a dois dias do aniversário da minha mãe e com ele o maldito AVC que acabou com ela...soube logo por experiências anteriores que tinha um AVC, ficou internada com todas as incapacidades que ele trás mas lúcida, fazia perguntas às quais respondia com gestos, enervava-se algumas vezes por não ser entendida o que é normal. Ainda no hospital alteraram parte da medicação e deram-lhe alta...veio a usar fraldas...fomos para casa dela, não pude trabalhar para poder dedicar-me a tempo inteiro, foram dias muito complicados...o mais difícil foi trocar as fraldas...sentia o desespero porque precisava das fraldas e de mim para a higiene... já o tinha feito no primeiro AVC à uns anos atrás mas as fraldas...lembro-me de ir a consultas  e muitas vezes não estavam preparados para deficientes com cadeira de rodas,sim...a minha mãe tinha sofrido uma amputação da perna esquerda à anos atrás e nunca aceitou ...vivia angustiada e depressiva.... eu sugeria-lhe vestir umas cuecas fraldas para se sentir mais à vontade caso sentisse vontade de fazer xixi mas estava fora de hipótese. Foram anos muito complicados...apesar de tudo vivia por nós... os filhos e netos.
Tinha que fazer muita força para cuidar dela levantá-la, deitá-la, sentá-la, lavá- la etc...tudo implicava força e eu com o maldito nódulo que teimava eu não desaparecer. Ela sabia, tinha-lhe dito na altura que o senti e, se soubesse nunca o tinha feito...ela estava muito preocupada não dizia-me mas dizia a outras pessoas...não queria que me reforça-se mas não tinha como evitar!
Foram umas duas semanas nisto até que...deixou de comer, ficou apática e voltei com ela ao hospital...foram dias...o braço esquerdo ficou negro, fez exames e, o sangue deixou de circular...ligaram-na a algumas máquinas para a ajudar. O dr. disse-nos que estava confortável, sem dores mas inerte...falávamos com ela e sei que nos ouvia, respondia com uma respiração mais ofogante.
A enfermeira aconselhou-nos a despedir, a dizer-mos que podia partir que ficávamos bem e ajudariamo-nos uns aos outros...assim fizemos e nessa madrugada partiu...precisamente ás três da madrugada hora que o meu marido me ouviu a conversar com uma linguagem estranha durante o sono...teria sido uma despedida?
Um mês depois mais calma iniciei a minha batalha contra o cancro da mama.
Depois de muitos exames e esperas chegou o veredicto...uma nova vida, completamente desconhecida para mim se avistava.



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