quinta-feira, 13 de junho de 2013

13 de junho Feriado de Lisboa- Santo António



Nasceu em Lisboa, no primeiro século da nossa nacionalidade, tendo falecido em Pádua em 1231. Foi certamente o primeiro e mais importante autor da pré-escolástica franciscana no espaço europeu, tendo recebido a sua formação cultural nas escolas e mosteiros portugueses, nomeadamente em Santa Cruz de Coimbra, num quadro muito marcado pelo pensamento de Santo Agostinho.
A vertente filosófica dos seus Sermões terá de ser encarada à luz do conceito de filosofia cristã, que tem por condição básica a aceitação da verdade da revelação, recebida pela fé, sendo a filosofia chamada a colaborar, pela via da razão, na obra da salvação, no pressuposto de que a razão filósofa em íntima articulação com a fé, nesta reconhecendo a autoridade plena do Verbo divino.

O que verdadeiramente está em causa é o esforço para abarcar a totalidade da vida do espírito fora da inexistente tensão razão/fé, fazendo confluir os saberes diversificados no plano mais alto da salvação.

Não deixando de exaltar a simplicidade dos que apenas crêem e vincando que a fé ocupa sempre o primeiro momento, trata-se também de saber qual o conteúdo da revelação acreditada, abrindo-se a processos de reflexão em que a razão emergente anuncia já o advento da filosofia escolástica. Em todo o caso, o saber da filosofia, bem como as armas da eloquência, não constituem fins em si próprios, mas meios cuja importância anteviu e cultivou no plano mais vasto da salvação. Não se tratava já da filosofia como «sabedoria do mundo», uma espécie de saber que se faz sem Deus ou contra Ele, em orgulhosa e soberba autonomia, razão por que, ao pensar a relação entre a ciência sagrada e as ciências profanas, no Prólogo dos Sermões Dominicais, entende que a plenitude da ciência está contida no Velho e no Novo Testamentos. Só a sabedoria que deles emana poderá constituir e edificar os sábios, logo, «assim como o ouro está acima de todos os metais, assim a ciência sagrada sobressai a toda a ciência», vincando por esta via a importância dos processos exegéticos, nomeadamente a questão dos sentidos da escritura, que exauriu com precisão, embora com privilégio do sentido moral. Aos dois Testamentos se referirá também como «uma roda dentro de outra roda», vincando o espírito da vida que está nas rodas, o qual identifica com o Verbo.

Uma das marcas relevantes da espiritualidade franciscana, que de algum modo se pressente no Santo português, é o entendimento do mundo do homem no quadro de uma interioridade que não o fecha sobre si próprio, estimulando um movimento de abertura e de relação solidária a tudo o que o cerca, no âmbito de um já muito vincado optimismo na valorização da criação como obra de Deus. A espiritualidade antoniana permanecerá muito permeável, na forma como viveu a perspectiva da interioridade e da pobreza, ao concreto, à natureza e à relação humana. A interioridade acentua a ideia de dependência em relação aos outros homens bem como ao conjunto da criação, numa espiritualidade eminentemente prática e vivencial.

Sto. António não olvidará a excelência da contemplação, mas sublinhará não obstante a circunstância terrena do homem como corpo e alma, sem deixar de considerar que a abertura à exterioridade não transforma o amor aos outros e às criaturas no apego à posse das coisas, estando neste caso o culto da pobreza, nomeadamente as críticas severas que dirigiu aos prelados e dignatários eclesiásticos, por se comprazerem nos luxos do século.

Tratando-se de uma espiritualidade que não olvidou a dimensão prática e vivencial, equacionou também a relação entre a acção e a contemplação no quadro da mística. Filha da vontade e do amor, numa alienatio mentis que supera o plano estritamente racional para que a alma, inteiramente conduzida pela graça, contemple Deus como em espelho ou em enigma, a mística tão-pouco representará uma renúncia à vida activa, nem às exigências da vertente racional do homem, porque a alma volta e regressa à vida activa para a realizar com maior perfeição, numa confluência entre o entender e o contemplar, o saber e a sabedoria.

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